O dia em que me ajoelhei aos pés de Fernanda Montenegro e de outros nomes consagrados do teatro brasileiro
Há pouco mais de 20 anos, reverenciei o talento da nossa grande artista diante de um Guairão lotado e — acreditem — completamente em silêncio por conta do meu momento único no palco
Em julho de 1998, Fernanda Montenegro escolheu Curitiba para a estreia nacional de um novo espetáculo: Da Gaivota, peça baseada na obra do dramaturgo russo Anton Tchekhov. Meses antes, eu tive a oportunidade de conhecê-la durante o evento de lançamento de Central do Brasil na capital paranaense.
Era ainda estudante universitário e Fernanda, após atender a imprensa, destinou alguns minutos para uma entrevista que gravei para um programa de rádio. Já era admirador do seu trabalho, mas daquele instante em diante me tornei um fã entusiasmado, pois conheci uma mulher realmente incrível. Atenciosa, fez questão de me acalmar diante do provável nervosismo que demonstrei com o gravador nas mãos.
Encantado pelo filme de Walter Salles e pela atuação e carinho de Fernanda, decidi que ao término da apresentação da peça entregaria uma cartinha de agradecimento e uma cópia da fita cassete (sim, isso mesmo que você leu!) no momento dos cumprimentos no palco. Estava com um amigo, sua mãe e o namorado dela nesse dia, confesso que com o coração querendo saltar pela boca.
Compramos ingressos na fila A, coladinho ao palco, para facilitar esse contato ao término da apresentação. Como era a estreia nacional, assim que terminou a encenação, a diretora, Daniela Thomas, que estava na plateia, interagiu com o elenco e algumas pessoas subiram ao palco para entregar flores.
Uma pessoa da produção havia me alertado: “Suba na hora que estiverem levando as flores, assim você já a cumprimenta e entrega seu envelope”. Eu assumo que sou uma pessoa desastrada e nervosa, por conta disso, a combinação dessas coisas não costuma ser muito bacana no final.
No momento da entrega de flores, criei coragem e fui. Estava de terninho, sapato, todo formalzinho, mas suando demais. Carregava a carta e aquela fita como se fossem as coisas mais importantes da minha vida. Naquele momento realmente eram, pois foi uma honra indescritível entrevistá-la e registrar esse encontro para compartilhar com milhares de ouvintes da rádio.
Fui a passos largos para a escada de acesso ao palco do Guairão. Meus olhos estavam vidrados em Fernanda Montenegro, que estava no centro do espaço cênico. Ao subir rapidamente, não percebi que o último degrau era maior que os outros…
Bingo!
Como estava em ritmo acelerado, fui arremessado para o centro do palco. Fiquei, literalmente, de quatro no palco do Guairão. Vi meu pacote rolar pelo chão até os pés de Fernanda Montenegro. Meu paletó veio parar na cabeça e, sem reação diante daquela cena, levei alguns segundos até conseguir me levantar.
Lembro, além do olhar atento de Fernanda, dos rostos incrédulos dos demais artistas que estavam ali ao seu lado: Fernanda Torres, Celso Frateschi, Matheus Nachtergaele e os saudosos Nelson Dantas e Antônio Abujamra.
Levantei, arrumei o paletó, alcancei o pacote nos pés de Fernanda e sei lá o que eu disse: estava em choque. Só lembro de ganhar um beijo e um “muito obrigada pelo carinho”.
Detalhe: ao cair no palco, com todos os microfones ligados, o barulho que tomou conta do Guairão foi ensurdecedor, semelhante ao estouro de fogos de artifício. Vi a plateia me olhando em silêncio, sem reações. Se é hoje, tinha feito história na net. Viralizaria rapidamente nas redes sociais.
Tanto tempo depois, tenho orgulho de — involuntariamente — ter celebrado a reunião de inúmeros talentos no mesmo palco. Meu carinho eterno por Fernanda Montenegro e por tudo que representa ao nosso país.
Que sua arte e essa mulher incrível que é nos inspirem cada vez mais!!
Muitos merecidos aplausos!!
Até mais, tchauuuuu! #tamojunto